A maionese é um tipo de coloide
classificado como emulsão, que se caracteriza pela mistura de materiais
imiscíveis (que não se misturam), água e óleo.
Por qual milagre então, a água da
gema do ovo (mais ou menos a metade da gema) e o óleo ficam misturados na
maionese?
O segredo do preparo está na gema
do ovo!
Por que óleo e água não se
misturam? As moléculas de água, formadas por átomos de oxigênio e hidrogênio,
ligam-se entre si por interações chamadas pontes de hidrogênio. Já as moléculas
de óleo não interagem com a água: são, por exemplo, triglicérides, isto é,
moléculas em forma de pente de três dentes, compostas principalmente de carbono
e hidrogênio.
Para misturar o óleo à água,
acrescenta-lhes moléculas “alcoviteiras”, que tem afinidade tanto com o óleo
quanto com a água. É graças a estas moléculas, chamadas tensoativas, que se
obtém a maionese, onde a concentração de óleo atinge 65%.
Os tensoativos da mostarda
(opcional) e da gema de ovo (como as lecitinas) servem para revestir gotículas
de óleo, pondo-se em contato com sua parte hidrofóbica (que não tem afinidade
pela água), e para dispersar estas gotículas revestidas pela água, ligando-se
às moléculas de água por sua parte hidrofílica (que tem afinidade pela água).
A parte dos tensoativos que se
dissolve em água tem todas a mesma carga elétrica, ou seja, se repelem. Por
isso que as gotículas de óleo revestidas não se fundem numa só fase. Por isso também que o vinagre ou o suco de limão estabilizam a maionese: em meio ácido, certas
moléculas tensoativas têm carga elétrica superior e se repelem muito mais.
Além de estabilizar a emulsão, o
suco de limão ou vinagre traz água à emulsão já constituída, assim, as
gotículas de água tem muito mais espaço para escoar. A maionese fica mais
fluida.
É possível preparar grande
quantidade de maionese utilizando uma única gema de ovo: basta acrescentar água
à medida que acrescenta óleo. Mais precisamente, para cada xícara de óleo
deve-se acrescentar duas ou três colheres (de café) de água.
Como uma gema de ovo grande
contém muitas moléculas tensoativas para emulsificar vários litros de maionese,
e como a gema de ovo em excesso dá um gosto de ovo cru que alguns julgam
desagradável, aconselha-se a não usar toda a gema no preparo de pequena
quantidade de maionese – uma gota basta para levantar uma grande tigela de
maionese – e a começar o molho com limão, vinagre ou água pura, acrescentados
de algumas ervas moídas.
É necessário bater vigorosamente
para fragmentar o óleo em gotículas e fazê-las migrar para dentro da água,
carregando tensoativos. Então, enquanto houver mais água do que óleo, grandes
gotas podem escapar da batedeira, e o óleo sobe à superfície. Quando o volume
de óleo incorporado for igual ao volume inicial de água e de tempero, as gotas
se impedem mutuamente de subir, e a emulsão começa a se estabilizar. Mas se a
temperatura é baixa, esfria-se demais o óleo coagulando-o, o que dificulta
dividi-lo em gotículas.
Quando se diz que uma maionese
talhou, é porque ela flocula, ou seja, as gotículas de óleo se misturam umas às
outras, e se separam da fase aquosa. Isto acontece ou porque os ingredientes
estão frios demais, ou porque a emulsão não contém água bastante para a
quantidade de óleo acrescentada. Nesses casos, aconselha-se acrescentar uma
nova gema de ovo, como se fosse óleo. No entanto, ás vezes, basta acrescentar
água e bater vigorosamente.
Adaptado de Hervé This: Um
cientista na cozinha. Tradução de Marcos Bosco, 2007.